Wednesday, September 15, 2021

CEM ANOS DE PAULO FREIRE – O FILÓSOFO INDOMESTICÁVEL CONTRA A MITOLOGIA – Blog do filósofo Paulo Ghiraldelli

CEM ANOS DE PAULO FREIRE – O FILÓSOFO INDOMESTICÁVEL CONTRA A MITOLOGIA – Blog do filósofo Paulo Ghiraldelli: É com embaraço que conto minha experiência com Paulo Freire. Comprei "A Pedagogia do Oprimido" em 1981. Foi o ano de fazer cursinho, escolher a carreira (Filo), a Universidade, ler Sartre, Marcuse, Marx, livros sobre a história da Filosofia e comprar os livros da coleção "Os Pensadores". Li Paulo Freire autodidaticamente e não entendi, questionei esse viés cultural, pois acreditava que o método era, primariamente voltado à alfabetização de adultos e, pela minha própria experiência, vindo da periferia, com pais trabalhadores domésticos e depois diarista e metalúrgico com apenas o primário e eu tendo passado pela escola pública e almejando o curso superior, me parecia que o ensino realmente revolucionário deveria "treinar para reconhecer e dominar o discurso do opressor", era o ensino que eu tive, com o amor que adquiri pelos livros. Alfabetizar deveria permitir compreender e dominar a Cultura Erudita para produzir argumentos, e refutar, no mesmo nível de linguagem. Nos anos seguintes compreendi melhor as diferentes definições de Cultura e suas importâncias e, o mais triste, hoje, é que o aparecimento do Lula sindicalista, um dos criadores do PT, me ofereceu um exemplo prático de que o homem com uma cultura própria, uma profunda consciência de classe e uma Utopia para sonhar, conseguia discutir no mesmo nível, sobre assuntos de interesse comum, com um político, um professor ou um estrangeiro diretor de multinacional. A Dialética era possível. Passei a entender melhor o que dizia Paulo Freire. O mundo em que vivemos hoje, acho que podemos afirmar, eliminou as diferenças culturais, estamos todos, vivendo o Capitalismo Financeiro, não existe mais uma Arte ou Cultura Erudita, apenas a Cultura midiática, pois as classes se igualam, dominantes e dominados estamos todos aculturados, nos vemos todos como exploradores de nós mesmos. O Capitalismo nos nivelou. Talvez precisemos, agora, voltar a discutir o Paulo Freire filósofo, o revolucionário, e meios de enfrentar o desenraizamento cultural em que estamos vivendo, esta Cultura hegemônica que afogou as outras Culturas e que nos sufoca.