Friday, September 13, 2019

"Arbeit macht frei" é o catzo.

Comentário ao artigo de Ghiraldelli:

FALTA DE ESMERO ATINGE ATORES DA GLOBO

Professor, eu diria que há duas coisas que me vem à mente a partir do seu video, mas não tenho certeza de que sejam realmente duas ou só duas.

1) Minha mãe, nos seus últimos anos, deixou de assistir novelas e passava o dia vendo telejornais. Acordava as seis e uma vez esperou até as sete e meia para me acordar e contar , excitadíssima, sobre o Tsunami no Japão.
O que quero dizer com isso? Teria que fazer um texto maior do que este já é para argumentar contra assistir novelas pois já conheço os seus em favor de assisti-las. (Quem sabe num futuro comentário?).

2) O processo neoliberal que, sei agora, pelo senhor, vem se desenvolvendo nos últimos 40 anos é também responsável (teoria minha, sem comprovação) pela falta de engajamento das pessoas, seja no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, na política, na vida.
Me parece óbvio que o empreendedorismo "coacheado"pelos neoliberais não pode ter só histórias de sucesso. Na verdade as histórias de fracasso são mais numerosas mas descartadas como parte do aprendizado para o sucesso vindouro, no próximo empreendimento, ou no seguinte, ou no seguinte, ou no próximo...

3a) Me parece razoável imaginar que na nossa sociedade onde o discurso neoliberal de que os direitos trabalhistas são os culpados por todos os problemas das empresas (os próprios trabalhadores pensam assim) e do país e em que o PT, como Partido dos Trabalhadores, é o principal culpado pois seus governos teriam minado a saúde das empresas com o excesso de proteção ao trabalhador (e aos Direitos Humanos) e com perseguição aos empresários, "heróis criadores de empregos", pai-patrão-pai-protetor-pai, tenham se desenvolvido alguns "maneirismos" como esta "falta de engajamento", de "esmero", de "orgulho de classe" (um Displacement - deslocamento?).

3b) Esse deslocamento do trabalhador que não se vê mais como trabalhador (ou como classe) mas como trabalhador-que-vai-virar-patrão-e-ser-bem-sucedido-e-rico-e-herói-e-bambambam-é-só-esperar-para-ver criou o trabalhador-que-não-é.

4) Eu esperava, imaginava, espero, imagino que numa sociedade em que os trabalhadores perderam seus direitos, o engajamento seria/seja muito baixo mas por motivos diferentes do que os citados acima.
Imaginava uma volta aos princípios da industrialização em que a sabotagem era a arma possível de luta dentro da fábrica mas o sr. me ensinou que o Capitalismo não volta atrás, como o tempo, ele corre para a frente e nós em seu encalço. Não estamos mais no Capitalismo Fordista mas no Financeiro
Então :

5) 40 anos de desenvolvimento lento e seguro do neoliberalismo destruiu a ideologia do trabalho que norteava os trabalhadores, (re)afirmava o orgulho de classe, o orgulho competitivo da guerra fria, pela pujança, pela qualidade, pela quantidade da produção, da riqueza, da alegria (ou felicidade), do Wellfare.

6a) Minha avó tinha uns acessórios de cozinha com frases, em alemão, do tipo "Este é um lar", e outros ditados alemães que diziam do orgulho do trabalho, do trabalho bem feito, e que foi inculcado nos imigrantes em contraposição aos ditados racistas contra negros ex-escravos que seriam preguiçosos e vagabundos e não possuiriam uma ética do trabalho.

6b) Muito jovem descobri o "Arbeit macht frei" e se desvelou para mim que toda aquela dita ética do trabalho era uma forma de dominação que tinha por objetivo aumentar a produtividade e diminuir as reclamações. O trabalho não apenas te libertaria mas também te engrandeceria.

6c)Até hoje, aqui no sul, o que mais reclamam os descendentes dos imigrantes é que os novos trabalhadores braçais, "camaradas" (com salários e parte da produção e moradia), por culpa do PT e do Bolsa Família, seriam vagabundos preguiçosos que só vão ocupar seu terreno e não sairão jamais pois se forem despedidos vão entrar na Justiça para conseguir extorquir dos "heróis que lhes deram emprego" até o último centavo ao acusá-los de exploração de trabalho escravo.

Conclusão?

A degeneração da "Ética do Trabalho", criou uma força de trabalho que não tem mais "orgulho" do que produz, não sonha em se realizar no trabalho, sonha apenas com o dinheiro para poder consumir e sonha, acima de tudo, ganhar por consumir como os criadores de moda, de tendências.

Me parece óbvio que, se todos formos criadores de tendências, não teremos quem nos siga.

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